Não pense que um dia eu saí
Sorrindo sem quê por você.
Não é porque quero-te aqui,
Que podes vir quando quiser.
Não é porque a falta me faz
De boba e do que lhe calhar,
Que podes chegar feito onda
E levar minhas conchas pro mar.
Meus dias são poucos e meus.
E tens de mim, poucos e bons.
E, desses nossos dias, há céus,
Manhãs e manchas de batom.
Não trate-me feito boneca,
Mas cuide de mim como tal.
E um dia eu talvez seja dessas
Meninas que gostam do igual.
Se fosses de mim o melhor,
Serias ainda ruim.
E os restos do que foi um só
Seriam, pois, restos ao fim.
Não ligo, não quero dizer;
Não quero matar nem morrer;
Tentar e perder, a mercê;
Se for por você,
Não serve pra mim.
26.12.12
17.12.12
Ver-te
Quantos braços e abraços
Quantas pernas e penas
Tantas léguas de passos
Tantos quase poemas
Risos meio fingidos
Que eu cansei de te dar
Dos meus olhos fugidos
Tão cansados de olhar
E esse nariz torcido
Que eu já sei contornar
E esse jogo no escuro
Que eu te deixo ganhar
Só pra ver-te sorrir
Só pra ver-te brincar
Só pra ver-te dormir
Só pra ver-te.
Quantas pernas e penas
Tantas léguas de passos
Tantos quase poemas
Risos meio fingidos
Que eu cansei de te dar
Dos meus olhos fugidos
Tão cansados de olhar
E esse nariz torcido
Que eu já sei contornar
E esse jogo no escuro
Que eu te deixo ganhar
Só pra ver-te sorrir
Só pra ver-te brincar
Só pra ver-te dormir
Só pra ver-te.
30.11.12
A história de como eu perdi meu sono
Um dia eu acordei cansada
De tanto dormir sem sono
De tanto pensar na vida
De só sonhar por engano
E era tanta coisa triste
Que só me cansava mais
Pensando em tudo o que existe
Tanto quanto era capaz
E o lamento ia aumentando
Até que virou preguiça
E o meu sono profanado
Virou mais uma premissa
Pra perder o sono sempre
E acabar só vadiando
Nas horas sem som da noite
Que viraram horas de pranto
E que me abraçaram sempre
Quando eu não podia mais
E essa lamúria crescente
Foi-se embora e trouxe paz
Agora eu sonho acordada
E não quero mais dormir
E é na noite sempre calada
Que eu acordo pra sorrir
De tanto dormir sem sono
De tanto pensar na vida
De só sonhar por engano
E era tanta coisa triste
Que só me cansava mais
Pensando em tudo o que existe
Tanto quanto era capaz
E o lamento ia aumentando
Até que virou preguiça
E o meu sono profanado
Virou mais uma premissa
Pra perder o sono sempre
E acabar só vadiando
Nas horas sem som da noite
Que viraram horas de pranto
E que me abraçaram sempre
Quando eu não podia mais
E essa lamúria crescente
Foi-se embora e trouxe paz
Agora eu sonho acordada
E não quero mais dormir
E é na noite sempre calada
Que eu acordo pra sorrir
28.11.12
Quando for
Pois se for pra ser, que seja
Que as nossas feridas jamais se curem
Que seja no chão, que seja na mesa
Que seja sofrível enquanto dure
Que eu chore de noite e ame de todo
E os pratos espatifem-se na parede
Que sejas só um entre inúmeros outros
Que nós só sejamos o tempo presente
Que o fim seja só um regalo do tempo
Mas que nós gritemos até nos cansar
Que o tempo resseque nossos sentimentos
Mas que nunca cure o nosso penar
E que se eternizem os toques e beijos
Que eu seja uma dor pra nunca passar
Que a falta que fazes me lembre por dentro
De sempre sofrer, pra sempre te amar
Que as nossas feridas jamais se curem
Que seja no chão, que seja na mesa
Que seja sofrível enquanto dure
Que eu chore de noite e ame de todo
E os pratos espatifem-se na parede
Que sejas só um entre inúmeros outros
Que nós só sejamos o tempo presente
Que o fim seja só um regalo do tempo
Mas que nós gritemos até nos cansar
Que o tempo resseque nossos sentimentos
Mas que nunca cure o nosso penar
E que se eternizem os toques e beijos
Que eu seja uma dor pra nunca passar
Que a falta que fazes me lembre por dentro
De sempre sofrer, pra sempre te amar
25.11.12
Convite II
Cada frase, uma fase
Um final pra nós dois
Mais um verso que faz-se
Entre agora e depois
Entre um adeus e outro
Nesse tempo que fez
Que um romance chuvoso
Encontrasse sua vez
Um final pra nós dois
Mais um verso que faz-se
Entre agora e depois
Entre um adeus e outro
Nesse tempo que fez
Que um romance chuvoso
Encontrasse sua vez
22.11.12
Sem Engano
Das tuas dores só lhe tomo uma
Nenhuma que um dia curarei
Nem sei até quando posso ser
Beber de você o que vier
Se for, só me chame se lembrar
De falar dessas coisas que não sei
Sou rei nesse teu castelo bambo
De escambo, de amor e de prazer
Já soube, mas agora nem me lembro
Do escombro que já foi meu coração
Mas não, não me canso de tentar
Penar nessa tua imensidão
Chorei, chorarei, mas sem engano
Nos planos que eu fiz, a gente chora
E agora, que sou feito cão sem dono
Sem sono, no pesar da tua demora
Me chama, pra ser teu amor eterno
Quão terno pode ser o nosso amor
Que dor, de ser teu e não ser nada
Na calada de mil noites de torpor
Nenhuma que um dia curarei
Nem sei até quando posso ser
Beber de você o que vier
Se for, só me chame se lembrar
De falar dessas coisas que não sei
Sou rei nesse teu castelo bambo
De escambo, de amor e de prazer
Já soube, mas agora nem me lembro
Do escombro que já foi meu coração
Mas não, não me canso de tentar
Penar nessa tua imensidão
Chorei, chorarei, mas sem engano
Nos planos que eu fiz, a gente chora
E agora, que sou feito cão sem dono
Sem sono, no pesar da tua demora
Me chama, pra ser teu amor eterno
Quão terno pode ser o nosso amor
Que dor, de ser teu e não ser nada
Na calada de mil noites de torpor
21.11.12
Espera
Ele trazia consigo mazelas
Ele vinha senil de viver
Só queria chegar na janela
E assistir seu amor renascer
Mas a janela não era aquela
E o amor já cansou de morrer
Ou quiçá seu amor fora embora
Como outrora ele teve de ir
E o que pode ser feito agora
Se a janela continua ali
Se no claustro da sua demora
Seu amor fez-se desiludir
Por que sim, por que não, sem porquê
Sem remédio pro seu coração
Porque sabe quem deve saber
Que quem vai nunca volta pro então
Que se ir for o amanhecer
Há de ser a volta escuridão
Foi-se embora na aurora sem rumo
Sem janela pra lembrar no mar
Foi-se velho, sujo, moribundo
Foi-se, sem ter pra onde voltar
E nem todo o amor desse mundo
Vai voltar pra janela e esperar
Ele vinha senil de viver
Só queria chegar na janela
E assistir seu amor renascer
Mas a janela não era aquela
E o amor já cansou de morrer
Ou quiçá seu amor fora embora
Como outrora ele teve de ir
E o que pode ser feito agora
Se a janela continua ali
Se no claustro da sua demora
Seu amor fez-se desiludir
Por que sim, por que não, sem porquê
Sem remédio pro seu coração
Porque sabe quem deve saber
Que quem vai nunca volta pro então
Que se ir for o amanhecer
Há de ser a volta escuridão
Foi-se embora na aurora sem rumo
Sem janela pra lembrar no mar
Foi-se velho, sujo, moribundo
Foi-se, sem ter pra onde voltar
E nem todo o amor desse mundo
Vai voltar pra janela e esperar
Eu te odeio, abelhinha
Por que voas no meu quarto, abelha
Se tens asas para o mundo inteiro
Por que o bege do meu quarto, abelha
E não as flores do canteiro
Despertaste-me do sono, à toa
Com o teu bater de asas
Não lhe quero fazer mal, abelha
Mas não quero que me faças
Deixa-me dormir, inseto
Não ligo pro seu ferrão
Só ligo pro teu barulho, abelha
Que roubou-me um sonho bom
:)
Se tens asas para o mundo inteiro
Por que o bege do meu quarto, abelha
E não as flores do canteiro
Despertaste-me do sono, à toa
Com o teu bater de asas
Não lhe quero fazer mal, abelha
Mas não quero que me faças
Deixa-me dormir, inseto
Não ligo pro seu ferrão
Só ligo pro teu barulho, abelha
Que roubou-me um sonho bom
:)
18.11.12
Corda Bamba
Veja bem, meu bom amigo
Que eu sei bem o que eu lhe digo
Finja mais que eu não sou nada
Que eu te finjo que não ligo
Se ao me ver assim cansada
Tão certa pra ser errada
Teus errantes sentimentos
Se alojaram em minha estada
Veja bem, nesse momento
O que você sente dentro
Não é nada, se poesia
Não se faz com pensamento
Se a labuta da alegria
A mornice da agonia
Não lhe deixam me deixar
Deixe em paz a calmaria
E é assim que eu vou levar
Nem pra lá e nem pra cá
Te mandando ir embora
Só pra ver você ficar
Que eu sei bem o que eu lhe digo
Finja mais que eu não sou nada
Que eu te finjo que não ligo
Se ao me ver assim cansada
Tão certa pra ser errada
Teus errantes sentimentos
Se alojaram em minha estada
Veja bem, nesse momento
O que você sente dentro
Não é nada, se poesia
Não se faz com pensamento
Se a labuta da alegria
A mornice da agonia
Não lhe deixam me deixar
Deixe em paz a calmaria
E é assim que eu vou levar
Nem pra lá e nem pra cá
Te mandando ir embora
Só pra ver você ficar
6.11.12
Giramundo
De cores, sabores, segredos
De espaços vazios, sagrados
O mundo gira de bom grado
Gira intermitente,
não para.
Fumaça que sobe indecente
Nas vias aéreas da gente
No peito morto incandescente
Doente canção,
que não para.
Se faz de amplidão, solidão
De vácuo, de inexatidão
Que corre pela multidão
E as minhas lamúrias,
não param.
E viver não é pois tortura
Distorção total da figura
De ser e viver com ternura
De anseio a saber,
que não para.
De espaços vazios, sagrados
O mundo gira de bom grado
Gira intermitente,
não para.
Fumaça que sobe indecente
Nas vias aéreas da gente
No peito morto incandescente
Doente canção,
que não para.
Se faz de amplidão, solidão
De vácuo, de inexatidão
Que corre pela multidão
E as minhas lamúrias,
não param.
E viver não é pois tortura
Distorção total da figura
De ser e viver com ternura
De anseio a saber,
que não para.
2.11.12
Doce Prece
Se ao acaso puderes lembrar
De tentares não me machucar
E ao tentares, melhor não tardares
A querer-me de um jeito só meu
Pois o quero do jeito que és
Impreciso da cabeça aos pés
E marcado de outras mulheres
De tudo do mundo, do jeito que deu
Não crie em mim muitos percalços
Não me faça de boba, eu lhe peço
Não me deixe à mercê, se puderes
Das tuas lamúrias, me faça museu
Eu só quero deitar-me em teu peito
E dizer-lhe o que quer que me venha
Eu só quero querê-lo mal feito
Querer tua lenha prum fogo só meu
De tentares não me machucar
E ao tentares, melhor não tardares
A querer-me de um jeito só meu
Pois o quero do jeito que és
Impreciso da cabeça aos pés
E marcado de outras mulheres
De tudo do mundo, do jeito que deu
Não crie em mim muitos percalços
Não me faça de boba, eu lhe peço
Não me deixe à mercê, se puderes
Das tuas lamúrias, me faça museu
Eu só quero deitar-me em teu peito
E dizer-lhe o que quer que me venha
Eu só quero querê-lo mal feito
Querer tua lenha prum fogo só meu
27.10.12
Um cadáver no porta-malas
Hoje de manhã morreu o Zeus. Inexatamente, imprecisamente. Morte parcial, de quem deixa o mundo sem deixá-lo de fato. De quem deixa marcas de dentes nos chinelos e uma porção de meias rasgadas perto do varal. Semi-morte, de quem ainda dorme embaixo da escada e late em dia de trovoada; de quem espanca a janela durante as refeições, até hoje não sei se por comida ou por carinho. Morte de rabo abanando, de medo de chuva, de tapete roubado, de frenesi embaixo da mesa. Sem mais dor, sem mais moscas, sem mais cheiro de morte. Sem a certeza de que o melhor que eu poderia fazer seria levar o meu amigo, perdido no lençol branco do porta-malas, pra tomar uma injeção de fim. O meu melhor foi, afinal, sentar na cadeira verde da minúscula sala com cheiro esquisito, enquanto alguem que certamente não sabia o que estava fazendo o injetava paz. Não doeu, não fez mal. Um cachorro certamente não sabe da própria finitude na hora de buscar qualquer coisa que eu jogue só pelo impulso incontrolável de fazê-lo. Ele não sabe de nada quando bebe água da piscina ou quando cheira a bunda de outro cachorro pra fazer amizade. Ele não faz a menor ideia de que é engraçado quando ele rouba o chinelo do vizinho, faz xixi na roda ou tem medo de gambá. Ele não faz a menor ideia de nada, mas eu faço. E é por isso que eu agradeço pelas risadas, pela atenção e pela lealdade. É por isso que eu nunca vou perdoá-lo por não estar mais aqui. Adeus, amigo.
25.10.12
Rumor
Sabia-se pois se dizia
Que o vento é do mundo
Que o tempo é de tudo
Que a paz não se faz
Dizia-se nas padarias
Nos bancos imundos
Nos bares, nos fundos
Há um tempo atrás
Que a noite é filha do dia
Que o verbo é muito de mudo
Que o raso é sempre mais fundo
Que sempre é quase jamais
Se a vida é toda agonia
A cada suspiro, um segundo
Se o tempo se faz de segundos
É tempo que a vida quer mais
Que o vento é do mundo
Que o tempo é de tudo
Que a paz não se faz
Dizia-se nas padarias
Nos bancos imundos
Nos bares, nos fundos
Há um tempo atrás
Que a noite é filha do dia
Que o verbo é muito de mudo
Que o raso é sempre mais fundo
Que sempre é quase jamais
Se a vida é toda agonia
A cada suspiro, um segundo
Se o tempo se faz de segundos
É tempo que a vida quer mais
21.10.12
Deixa em Paz
Solta a minha mão de vez
Deixa o meu pranto correr
Que eu cansei de lucidez
E se eu não quero dizer
Deixa em paz minha mudez
Deixa eu ir com a correnteza
Se eu quiser soltar o riso
Se eu quiser subir na mesa
Cê não tem nada com isso
Deixa em paz minha leveza
Tira as tuas mãos de mim
Se eu quisesse ser cuidada
Estaria em teu jardim
Não em pé de madrugada
Deixa em paz meu não e sim
Se eu quisesse opinião
É bem certo, eu perguntava
Mas eu já larguei de mão
Já soltei as minhas travas
Deixa em paz meu coração
Mas eu já não quero mais
Tanto dedo na minha cara
Se te agrada, tanto faz
Uma hora o peito sara
Deixa em paz a minha paz
Deixa o meu pranto correr
Que eu cansei de lucidez
E se eu não quero dizer
Deixa em paz minha mudez
Deixa eu ir com a correnteza
Se eu quiser soltar o riso
Se eu quiser subir na mesa
Cê não tem nada com isso
Deixa em paz minha leveza
Tira as tuas mãos de mim
Se eu quisesse ser cuidada
Estaria em teu jardim
Não em pé de madrugada
Deixa em paz meu não e sim
Se eu quisesse opinião
É bem certo, eu perguntava
Mas eu já larguei de mão
Já soltei as minhas travas
Deixa em paz meu coração
Mas eu já não quero mais
Tanto dedo na minha cara
Se te agrada, tanto faz
Uma hora o peito sara
Deixa em paz a minha paz
16.10.12
Minha Preguiça Poética
Me deixa brincar de ficar
Me deixa deixar de acordar
Eu quero ficar de pijama,
Quero minha cama
Pra me afagar
Eu vou enrolar o dia inteiro
E prender o cabelo pra não pentear
Eu quero viver de preguiça
E não tem premisssa
Que faça mudar
Eu sou por demais fatigada
Pra me incomodar com o seu mimimi
Desculpe-me, estou ocupada
Estou embolada
Preciso dormir
Eu nao vou passar meu perfume
Não vou me vestir e não vou levantar
Não há ninguem pra reclamar
Então sem problemas
Se eu deixar pra lá
Eu tenho preguiça de rima
Preguiça de verso e de filosofar
Ainda está cedo pro mundo
E nada profundo
Vai lho agrar
Então é melhor deixar quieto
Que é o jeito certo de esclarecer
Que o bom da poesia é o ócio
E o bom é que eu posso
Não me resolver
Me deixa deixar de acordar
Eu quero ficar de pijama,
Quero minha cama
Pra me afagar
Eu vou enrolar o dia inteiro
E prender o cabelo pra não pentear
Eu quero viver de preguiça
E não tem premisssa
Que faça mudar
Eu sou por demais fatigada
Pra me incomodar com o seu mimimi
Desculpe-me, estou ocupada
Estou embolada
Preciso dormir
Eu nao vou passar meu perfume
Não vou me vestir e não vou levantar
Não há ninguem pra reclamar
Então sem problemas
Se eu deixar pra lá
Eu tenho preguiça de rima
Preguiça de verso e de filosofar
Ainda está cedo pro mundo
E nada profundo
Vai lho agrar
Então é melhor deixar quieto
Que é o jeito certo de esclarecer
Que o bom da poesia é o ócio
E o bom é que eu posso
Não me resolver
Porta Aberta
Dos teus olhos esmiuçados
Eu só quero o cheiro da blusa
E das noites e dias de nada
Só devolva-me os abraços
Do carinho que eu lhe tive
Jogue fora o que não serve
Mas salve consigo pra sempre
Os trajetos dos meus dedos
Deixe ao lado minhas rimas
Deixe estar, deixe pra lá
Nunca lhe pedi afeto
E, de fato, não penar
Deixe em paz meu choro manso
Que eu perdôo sem pensar
Meus caminhos amiúde
Nunca mais vais explorar
E se um dia divagares
Podes vir bem devagar
Só não peça-me o que teves
E não soube desfrutar
Eu só quero o cheiro da blusa
E das noites e dias de nada
Só devolva-me os abraços
Do carinho que eu lhe tive
Jogue fora o que não serve
Mas salve consigo pra sempre
Os trajetos dos meus dedos
Deixe ao lado minhas rimas
Deixe estar, deixe pra lá
Nunca lhe pedi afeto
E, de fato, não penar
Deixe em paz meu choro manso
Que eu perdôo sem pensar
Meus caminhos amiúde
Nunca mais vais explorar
E se um dia divagares
Podes vir bem devagar
Só não peça-me o que teves
E não soube desfrutar
15.10.12
Sobre o Amor e o Desalento
Nada é tão irreversível
Quanto o desamor
Nada pode ser passível
De tamanha dor
E por falar em ter amor
Quem sabe dizer
Quanto sabe e quanto falta
Pro amor perecer
E se nada é exato assim
Um ponto final
Pode ser pra mim, enfim
Um cartão postal
Do que eu podia ter sido
Mas no fim não fui
Por direito ou desapego
Do que se conclui
E que fosse o desalento
Uma forma tal
De abarcar o sentimento
Sem viver igual
E que quem tenha vivido
Possa enfim dizer
Que não há quem viva um amor
Sem se ver morrer
13.10.12
Versos Singelos da Tua Partida & adeus
Quem você pensa que é
Pra chegar feito carnaval
Que faz festa e arrepia
Que é feliz noite e dia
E é só cinzas ao final
Não foi só você, mas fui só
E independe de quem começou
Se eu sou festa e cinzas no fim
Se você já não gosta de mim
Quem sou eu pra dizer que acabou
Quem você pensa que eu sou
Pra ir embora feito fim de noite
Que ninguem diz adeus propriamente
Que não sabe o que sente ou não sente
E talvez da manhã ninguem note
Mas agora eu quero saber
Se você pensa que eu sou criança
Que com um doce já fica feliz
Que não sabe do próprio nariz
E no fim o que sobra é pirraça
E eu nem ligo pra sua partida
Só queria ser mais do que resto
E nem faço questão que admita
Que afinal eu nem fui tão finita
E que eu não sou só um objeto
Pra chegar feito carnaval
Que faz festa e arrepia
Que é feliz noite e dia
E é só cinzas ao final
Não foi só você, mas fui só
E independe de quem começou
Se eu sou festa e cinzas no fim
Se você já não gosta de mim
Quem sou eu pra dizer que acabou
Quem você pensa que eu sou
Pra ir embora feito fim de noite
Que ninguem diz adeus propriamente
Que não sabe o que sente ou não sente
E talvez da manhã ninguem note
Mas agora eu quero saber
Se você pensa que eu sou criança
Que com um doce já fica feliz
Que não sabe do próprio nariz
E no fim o que sobra é pirraça
E eu nem ligo pra sua partida
Só queria ser mais do que resto
E nem faço questão que admita
Que afinal eu nem fui tão finita
E que eu não sou só um objeto
Anestesia
Os dias que passam parecem sem cor
E os meus pensamentos assemelham telas
Meus olhos só sabem do que nunca viram
E o resto do mundo eu só sinto em parcelas
Letargicamente eu esboço sorrisos
E, por empirismo, me cravo em penar
E, por compaixão, eu choro ao dormir
E, por estar longe, eu não quero acordar
Se é chuva ou se é sol já não faz diferença
A não ser que uma nuvem venha me levar
Pra outros abraços e outros sorrisos
(E que dessa vez eles sejam gratuitos)
Pra que eu possa, enfim, me deixar espalhar
Mas não, não sou triste
Feliz tambem não
Só quero saber até onde vai dar
Pra ser desse jeito sem ter de explicar
O limite entre o eu e a total omissão
E os meus pensamentos assemelham telas
Meus olhos só sabem do que nunca viram
E o resto do mundo eu só sinto em parcelas
Letargicamente eu esboço sorrisos
E, por empirismo, me cravo em penar
E, por compaixão, eu choro ao dormir
E, por estar longe, eu não quero acordar
Se é chuva ou se é sol já não faz diferença
A não ser que uma nuvem venha me levar
Pra outros abraços e outros sorrisos
(E que dessa vez eles sejam gratuitos)
Pra que eu possa, enfim, me deixar espalhar
Mas não, não sou triste
Feliz tambem não
Só quero saber até onde vai dar
Pra ser desse jeito sem ter de explicar
O limite entre o eu e a total omissão
10.10.12
Hipótese de Mim
Mas e se eu não fosse sozinha
Se não fosse nervosa, se eu fosse na minha
Se eu fizesse as coisas que o mundo dizia
Seria eu feliz?
Se o que tenho em mim fosse pouco
Se fosse certinho, sem nada de louco
Se meu peito amiúde se tornasse oco
Daria pra ser?
Se eu não estivesse cansada
De tanto acertar nas ideias erradas
Sentasse e esperasse por tudo ou por nada
Seria melhor?
E se fosse eu calmaria
Se eu não carregasse comigo agonia
E se fosse fácil me ter todo dia
Você me amaria?
Se não fosse nervosa, se eu fosse na minha
Se eu fizesse as coisas que o mundo dizia
Seria eu feliz?
Se o que tenho em mim fosse pouco
Se fosse certinho, sem nada de louco
Se meu peito amiúde se tornasse oco
Daria pra ser?
Se eu não estivesse cansada
De tanto acertar nas ideias erradas
Sentasse e esperasse por tudo ou por nada
Seria melhor?
E se fosse eu calmaria
Se eu não carregasse comigo agonia
E se fosse fácil me ter todo dia
Você me amaria?
7.10.12
Meio a Mercê
Brasilis
Pra variar, quero eternizarUm canto escuro, um fundo de bar
Quero explicar o céu pra você
Meias palavras, meio à mercê
Um fim de noite, um canto pra nós
Lua na espreita à espera de nós
Um livro em branco, nada a perder
O meu cigarro, o teu laissez-faire
Teus olhos negros, teu passo errado
A noite mostra o bom do pecado
Duas cadeiras, um passo em falso
Tantas maneiras de ser culpado
Arrepiado, eu espero teus braços
Bem devagar teus dedos e laços
Teu riso zomba do meu fascínio
Eu sou sujeito ao teu particípio
Pra variar, quero deixar no ar
Por um segundo, por um olhar
Nada a declarar, tudo a perceber
Mais um cigarro, mais um clichê
Tanto volume, nenhuma nota
Nós dois viramos uma aposta
Os teus sussurros no meu ouvido
Teu jogo já começa vencido
Dissimulado, lhe assisto o fumo
Nossos desejos mudam o rumo
Teus olhos fitam o invisível
Tua maldade é quase sensível
O vento quente nos teus cabelos
A compostura dos meus apelos
Meus pensamentos tão inexatos
Nas entrelinhas do teu contrato
3.10.12
Quebra-cabeças
Não peço teu apreço
A tudo que te impeço
A tudo o que não foi
E nem seria, ao certo
Só quero teu afago
Teu peito transbordado
Teus olhos pra me verem
Ferir-te com cuidado
Eu quero só descanso
Um jeito bem mais manso
De um peito calejado
Seguir sem tanto ranço
E antes que eu me esqueça
Não pense que sou dessas
E nem tente montar
O meu quebra-cabeças
Desculpa por querer
E por me desculpar
Mas vai que um dia desses
Eu volto, pra ficar
A tudo que te impeço
A tudo o que não foi
E nem seria, ao certo
Só quero teu afago
Teu peito transbordado
Teus olhos pra me verem
Ferir-te com cuidado
Eu quero só descanso
Um jeito bem mais manso
De um peito calejado
Seguir sem tanto ranço
E antes que eu me esqueça
Não pense que sou dessas
E nem tente montar
O meu quebra-cabeças
Desculpa por querer
E por me desculpar
Mas vai que um dia desses
Eu volto, pra ficar
9.9.12
Vento de Chuva
De manhã já cedo
Bem sutil, bem lento
Nos acorda o vento
Pra roubar o sono
Ele vem mansinho
Não pede passagem
E segue viagem
Como cão sem dono
Pra roubar-te as roupas
Mexer teus cabelos
Arrepiar-te os pelos
Levar o abandono
Traz consigo a chuva
Lava os desencontros
Cobre com seu manto
As noites do outono
Como uma valsinha
Vai pra todo lado
Dança nos telhados
Doce e sem engano
Bem sutil, bem lento
Nos acorda o vento
Pra roubar o sono
Ele vem mansinho
Não pede passagem
E segue viagem
Como cão sem dono
Pra roubar-te as roupas
Mexer teus cabelos
Arrepiar-te os pelos
Levar o abandono
Traz consigo a chuva
Lava os desencontros
Cobre com seu manto
As noites do outono
Como uma valsinha
Vai pra todo lado
Dança nos telhados
Doce e sem engano
4.9.12
Nós
Com Pedro Jardim
Último adeusJá não sou mais teu
Devolva o que é meu
Já se foi...
Foi-se o tempo
O desalento
O escravo sentimento
De nós dois
Foi tão bom
O teu cheiro, teu batom
Teus versinhos de drummond
Teus lençóis
Teu bom dia
Preencheu minha vida
Em plena harmonia
Mas depois
Fez-se noite
Mas não chore, não note
Se meu dia ainda é ter-te
A sós.
Foi-se tanto
Tanto riso, tanto pranto
Que ao menos por enquanto,
Nós.
Un matin d'orage
Minhas palpebras despedem-se doces
Minhas costas se entendem com a cama
Meus sonhos brincam de pique-esconde
Com a chuva que cai lá fora
Meus dedos se abraçam preguiçosos
Meus olhos dançam estáticamente
Alguma coisa parece não estar no lugar
O resto do mundo nem sente.
Oníricas gotas zombam de mim
Qual pretensiosos meus pés ao andar
Eu tenho preguiça, a preguiça me tem
Ainda nem é de manhã.
O que o sol vem fazer tanto faz como fez
Os meus olhos só querem fechar pra ficar
Eu quero sorrir e quero amanhecer
Eu quero acordar em outro lugar.
Minhas costas se entendem com a cama
Meus sonhos brincam de pique-esconde
Com a chuva que cai lá fora
Meus dedos se abraçam preguiçosos
Meus olhos dançam estáticamente
Alguma coisa parece não estar no lugar
O resto do mundo nem sente.
Oníricas gotas zombam de mim
Qual pretensiosos meus pés ao andar
Eu tenho preguiça, a preguiça me tem
Ainda nem é de manhã.
O que o sol vem fazer tanto faz como fez
Os meus olhos só querem fechar pra ficar
Eu quero sorrir e quero amanhecer
Eu quero acordar em outro lugar.
22.8.12
Conto de Dois
Nos teus olhos macios celebraria
A insondável arte de serdes eterno.
Ainda que a vida nos privasse do sempre,
E que o nosso tempo se reduzisse a zero.
Os nossos dias seriam de sol,
Mesmo se a chuva caísse lá fora.
E as coisas do jornal e do futebol,
Não chegariam nas nossas cobertas.
As horas seriam um regalo do mundo,
E o mundo seria um pedaço de Nós,
Os nossos suspiros seriam tão fundos
Que o ar cansaria dos nossos pulmões.
Os auto falantes das nossas janelas
Tocariam a melodia do mar em Lá
Pra ninar-nos independente das horas,
Que o relógio do canto insiste em marcar.
Acariciarias as minhas cicatrizes,
e explicá-las-ia como memórias
- Impessoais e quase insignificantes -
de um passado que já não nos importa.
Saudaríamos o tempo em que fazemos história
E a cama em que fazemos leito, enquanto
Riríamos frente à estúpida pequenez do universo.
Dividir-nos-íamos percalço a percalço,
E algumas noites seriam só silêncio.
Os nossos armários encheriam-se de poeira
E lágrimas, e músicas, e memórias, e sonhos.
Mas voltarias. Crisparias os teus eternos braços ao meu redor,
Como que em desculpa pelo tempo em que estivemos separados.
A insondável arte de serdes eterno.
Ainda que a vida nos privasse do sempre,
E que o nosso tempo se reduzisse a zero.
Os nossos dias seriam de sol,
Mesmo se a chuva caísse lá fora.
E as coisas do jornal e do futebol,
Não chegariam nas nossas cobertas.
As horas seriam um regalo do mundo,
E o mundo seria um pedaço de Nós,
Os nossos suspiros seriam tão fundos
Que o ar cansaria dos nossos pulmões.
Os auto falantes das nossas janelas
Tocariam a melodia do mar em Lá
Pra ninar-nos independente das horas,
Que o relógio do canto insiste em marcar.
Acariciarias as minhas cicatrizes,
e explicá-las-ia como memórias
- Impessoais e quase insignificantes -
de um passado que já não nos importa.
Saudaríamos o tempo em que fazemos história
E a cama em que fazemos leito, enquanto
Riríamos frente à estúpida pequenez do universo.
Dividir-nos-íamos percalço a percalço,
E algumas noites seriam só silêncio.
Os nossos armários encheriam-se de poeira
E lágrimas, e músicas, e memórias, e sonhos.
Mas voltarias. Crisparias os teus eternos braços ao meu redor,
Como que em desculpa pelo tempo em que estivemos separados.
20.8.12
Maré
As ondas da praia levaram seu pranto
E a noite levou o que a espuma não traz
A bruma dos sonhos que morrem no mar
E os beijos que foram-se pra nunca mais
A lua deitou-se e esqueceu-se do brilho
Deixou-a sozinha, e sozinha chorou
Na areia da praia ficaram seus risos
E em seu rosto ficaram as sombras de amor
Será que ele volta? Se volta, ele vem
Será que vem mesmo? Se vem, vai ficar
Não sabe se fica, nem mesmo se vem
Mas todos os dias pedia pro mar
Um dia, como ninguem sabe dizer
Eu penso que deve ter sido o azar
Que disse pra ela o que não há de haver
Mais triste em qualquer que se quede o lugar
Seus olhos encheram-se como maré
E inundaram seus passos como maldição
E agora ela é só, como outra qualquer
E agora ela ouviu o mar dizendo "não"
A lua deitou-se e esqueceu-se do brilho
Deixou-a sozinha, e sozinha chorou
Na areia da praia ficaram seus risos
E em seu rosto ficaram as sombras de amor
Será que ele volta? Se volta, ele vem
Será que vem mesmo? Se vem, vai ficar
Não sabe se fica, nem mesmo se vem
Mas todos os dias pedia pro mar
Um dia, como ninguem sabe dizer
Eu penso que deve ter sido o azar
Que disse pra ela o que não há de haver
Mais triste em qualquer que se quede o lugar
Seus olhos encheram-se como maré
E inundaram seus passos como maldição
E agora ela é só, como outra qualquer
E agora ela ouviu o mar dizendo "não"
15.8.12
Esconderijo
Sei que aqui, em algum lugar
Hei de ficar, pra não voltar
Hei de morrer, pra não dizer
Que vou voltar.
Neste lugar hei de morar
Hei de esquecer de céu e mar
Hei de morrer, pra não dizer
Que tenho um lar.
Tudo o que quero, lá está
Mesmo em Pasárgada não há
Hei de morrer, se não clamar
Pelo meu lugar.
Hei de ficar, pra não voltar
Hei de morrer, pra não dizer
Que vou voltar.
Neste lugar hei de morar
Hei de esquecer de céu e mar
Hei de morrer, pra não dizer
Que tenho um lar.
Tudo o que quero, lá está
Mesmo em Pasárgada não há
Hei de morrer, se não clamar
Pelo meu lugar.
13.8.12
Pouco Samba, Muito Samba
Meu samba é pouco
É cansado e é insosso
É miúdo de sufoco
É pra ser um samba só
Pouco, mas de leve
Um par de loucos
Bate lata e bate rouco
Só pra ver o samba só
Ai ai, vem ver
Um sambinha de quintal
Botou água no feijão
Virou hino nacional
Eu quero ver
Quando o mundo for sambar
Quero ver quem vai sobrar
Só pra me contrariar.
Quando o mundo for sambar
Quero ver quem vai gostar
Só pra não deixar passar.
É cansado e é insosso
É miúdo de sufoco
É pra ser um samba só
Pouco, mas de leve
Um par de loucos
Bate lata e bate rouco
Só pra ver o samba só
Ai ai, vem ver
Um sambinha de quintal
Botou água no feijão
Virou hino nacional
Eu quero ver
Quando o mundo for sambar
Quero ver quem vai sobrar
Só pra me contrariar.
Quando o mundo for sambar
Quero ver quem vai gostar
Só pra não deixar passar.
10.8.12
Sinuca de bico
Um beco fechado
Escuro, vazio
Um passarinho
Um passarinho
Fora do ninho
Um dia de chuva
Sem teto ou beiral
Quatro paredes
Num dia de sol
Mil andorinhas
E nenhum verão
Metros de jardim
E nenhum botão
E nenhum verão
Metros de jardim
E nenhum botão
As fases da lua
Sem mar pra guiar
Um dia de valsa
Sem som e sem par
Estrela cadente
No amanhecer
A fuga sem ter
Pra onde correr
As minhas mazelas
Sem ti pra afagar
As tuas costelas
Sem mim pra chorar
Um mundo de mim
Pra nenhum você
As nossas cobertas
Sem Nós pra aquecer.
8.8.12
Teus Passos
Sai por essa porta,
Pra nunca voltar.
Não pensa que passa,
Pois não vai passar.
Não pensa que é tudo
Da boca pra fora,
Não pensa que vai,
Mas que não demora.
Por todo esse tempo,
Por tantos avisos.
Por todas as pernas,
E todos os risos.
Pelos teus abraços,
E pelos sentidos,
Por todos os dias
Que estive contigo.
Juraste por tudo
E erraste, contudo.
Deixou-me com nada
E alguns absurdos.
Gritei teus segredos,
Pisei teus sapatos,
No piso do quarto,
Fugi dos teus passos.
Chorei teu perfume,
Cheirei tuas cinzas,
Morri de ciúmes,
Das suas camisas.
Deitei-me na beira
Da cama não feita,
Pra ver se teu cheiro
Ainda me aceita.
Cansei de ser tua,
Cansei de não ser.
Procurei nas ruas
Um alguém você.
Mas ah, quer saber...
Mas vá, pera lá...
Sai por essa porta,
Pra nunca voltar.
Pra nunca voltar.
Não pensa que passa,
Pois não vai passar.
Não pensa que é tudo
Da boca pra fora,
Não pensa que vai,
Mas que não demora.
Por todo esse tempo,
Por tantos avisos.
Por todas as pernas,
E todos os risos.
Pelos teus abraços,
E pelos sentidos,
Por todos os dias
Que estive contigo.
Juraste por tudo
E erraste, contudo.
Deixou-me com nada
E alguns absurdos.
Gritei teus segredos,
Pisei teus sapatos,
No piso do quarto,
Fugi dos teus passos.
Chorei teu perfume,
Cheirei tuas cinzas,
Morri de ciúmes,
Das suas camisas.
Deitei-me na beira
Da cama não feita,
Pra ver se teu cheiro
Ainda me aceita.
Cansei de ser tua,
Cansei de não ser.
Procurei nas ruas
Um alguém você.
Mas ah, quer saber...
Mas vá, pera lá...
Sai por essa porta,
Pra nunca voltar.
5.8.12
Quem sabe
Com Pedro Jardim
Talvez eu seja isso tudoUm mero vagabundo
Um sujo morimbundo
Quem sabe...
Talvez seja uma fase
Que no peito arde
O coração em partes
Quem sabe...
Talvez um dia desses
Os dias viram meses
E eu vivo para sempre
Quem sabe...
Talvez ser tão errado
Me salve de ser salvo
E de ser olvidado
Quem sabe...
Talvez eu seja sim
Início, meio e fim
E se eu seguir assim
Quem sabe...
30.7.12
Pandora
Ouro, prata, preto
Pedra, pau e pão
Tudo o que nos resta
Em vão.
Fogo, toco, pouco
É muito e é normal
O abismo coletivo
Desigual.
O dom, o som do bom
Tudo num segundo
Todos e ninguém
No mundo.
Todas as correntes
Tudo o que seduz
Tudo o que é ausente
Da luz.
Pedra, pau e pão
Tudo o que nos resta
Em vão.
Fogo, toco, pouco
É muito e é normal
O abismo coletivo
Desigual.
O dom, o som do bom
Tudo num segundo
Todos e ninguém
No mundo.
Todas as correntes
Tudo o que seduz
Tudo o que é ausente
Da luz.
28.7.12
O Espetacular Circo da Vida & cia limitada
Esguios saltimbancos
Esquivam-se do azar
Palhaços gargalhando
Rindo pra não chorar
Senis malabaristas
Acordam pra dormir
Meninos trapezistas
Vivendo pra sorrir
Filhos na corda bamba
Não sabem pr'onde vão
Cadentes como o samba
Ardentes qual carvão
Amantes acrobatas
Sujeitam-se ao que for
Pulando empoleirados
Caídos de amor
Na pontinha dos pés
Pra ninguém acordar
Dançam as bailarinas
Pra dança não calar
Mães contorcionistas
Pais atrapalhados
Se doem pelas vidas
De seus recém-chegados
Os mágicos sumiram
Os bichos se mandaram
Restou ao nosso circo
Um público frustrado
E quando chega o fim
Parece até normal
Uma piada ruim
Sem riso no final
À noite a gente dorme
Pra mais um sol nascer
No circo dessa vida,
Vivemos pra morrer.
Esquivam-se do azar
Palhaços gargalhando
Rindo pra não chorar
Senis malabaristas
Acordam pra dormir
Meninos trapezistas
Vivendo pra sorrir
Filhos na corda bamba
Não sabem pr'onde vão
Cadentes como o samba
Ardentes qual carvão
Amantes acrobatas
Sujeitam-se ao que for
Pulando empoleirados
Caídos de amor
Na pontinha dos pés
Pra ninguém acordar
Dançam as bailarinas
Pra dança não calar
Mães contorcionistas
Pais atrapalhados
Se doem pelas vidas
De seus recém-chegados
Os mágicos sumiram
Os bichos se mandaram
Restou ao nosso circo
Um público frustrado
E quando chega o fim
Parece até normal
Uma piada ruim
Sem riso no final
À noite a gente dorme
Pra mais um sol nascer
No circo dessa vida,
Vivemos pra morrer.
23.7.12
05:01
As horas me atropelaram
Acordes se desfizeram
Cachorros me perturbaram
E eu ainda não dormi
Os sonhos já me chamaram
Meus olhos se reviraram
Meus lábios já se calaram
E eu ainda estou aqui
O vento varreu Lá Fora
Uivando de hora em hora
Lembrando-me o aqui-agora
Que eu ainda não vivi
Pensei em tudo do mundo
Em e cada gota e segundo
E em todo o amor profundo
Que eu nunca hei de sentir
Acordes se desfizeram
Cachorros me perturbaram
E eu ainda não dormi
Os sonhos já me chamaram
Meus olhos se reviraram
Meus lábios já se calaram
E eu ainda estou aqui
O vento varreu Lá Fora
Uivando de hora em hora
Lembrando-me o aqui-agora
Que eu ainda não vivi
Pensei em tudo do mundo
Em e cada gota e segundo
E em todo o amor profundo
Que eu nunca hei de sentir
16.7.12
Mudez
Queria dizer saudade
Mas disse de tudo um pouco
Não disse o que na verdade
Lotava-me os versos roucos
Queria dizer adeus
Mas disse o que não devia
Olhei para os olhos teus
E disse que ficaria
Queria ter dito tudo
No fundo não disse nada
Jurei-lhe o melhor do mundo
E fui-me, sempre calada
Queria querer dizer
De fato, jamais o quis
Querer-te foi um prazer
Mas nunca me fez feliz
Mas disse de tudo um pouco
Não disse o que na verdade
Lotava-me os versos roucos
Queria dizer adeus
Mas disse o que não devia
Olhei para os olhos teus
E disse que ficaria
Queria ter dito tudo
No fundo não disse nada
Jurei-lhe o melhor do mundo
E fui-me, sempre calada
Queria querer dizer
De fato, jamais o quis
Querer-te foi um prazer
Mas nunca me fez feliz
14.7.12
Então
Como se nada houvesse acontecido
Como se tudo não tivesse passado
Os meus argumentos já foram vencidos
E os sonhos que eu tive já foram roubados
Assim vivo eu como quem sente nada
E assim eu me venço por todos os dias
O assim de passar uma vida passada
O então de viver uma história vencida
Já então sem razão eu não clamo por nada
E assim me carece o então dessa vida
Eu me logro a cantar as ideias erradas
Me ponho a rezar pelo fim desses dias
Laço de Fita
Abre a janela e vem ver o sol
Vem ver os pingos e as cores
As pregas das saias das nuvens
Vem junto comigo pro céu
Se empilha comigo nesse beiral
Que estamos na beira da praia
Estamos em qualquer lugar
Vem junto comigo pro mar
Desce do salto, vamos brincar
Vamos dançar um baião
Corre, ninguém vai saber
Vem junto comigo pro chão
Vem ver os pingos e as cores
As pregas das saias das nuvens
Vem junto comigo pro céu
Se empilha comigo nesse beiral
Que estamos na beira da praia
Estamos em qualquer lugar
Vem junto comigo pro mar
Desce do salto, vamos brincar
Vamos dançar um baião
Corre, ninguém vai saber
Vem junto comigo pro chão
12.7.12
Primavera
Eu vou chegar
Qual a estrela da manhã
Não vais nem assinalar
Amanhã eu vou chegar
Eu vou voltar
Põe a mesa, arruma a cama
Se prepara devagar
Raia o dia, eu vou voltar
Não vais saber
Nunca vais nem suspeitar
Que um dia eu fui embora
Por não te querer amar
Não vem dizer
Que contigo eu fui ruim
Pois se logo quis partir
É por não cuidares de mim
Eu sou só uma
Nunca fui sua boneca
Nunca quis de forma alguma
Te deixar me governar
Mas dessa vez
Vou voltar devagarinho
Te sugiro mais carinho
E mais noites de luar
Qual a estrela da manhã
Não vais nem assinalar
Amanhã eu vou chegar
Eu vou voltar
Põe a mesa, arruma a cama
Se prepara devagar
Raia o dia, eu vou voltar
Não vais saber
Nunca vais nem suspeitar
Que um dia eu fui embora
Por não te querer amar
Não vem dizer
Que contigo eu fui ruim
Pois se logo quis partir
É por não cuidares de mim
Eu sou só uma
Nunca fui sua boneca
Nunca quis de forma alguma
Te deixar me governar
Mas dessa vez
Vou voltar devagarinho
Te sugiro mais carinho
E mais noites de luar
5.7.12
Flores Rotas
Belas, singelas, magrelas
Aquelas eternas meninas
Brincam, suplicam, dedicam
Anseiam por vidas mais ternas
Lhanas, profanas, ciganas
Fulanas alegres sem dono
Andam, cirandam, se enganam
Se engraçam pra vida da noite
Tristes, silentes, doentes
Pedintes de todos os dias
Destroem-se, doem-se, correm
Corroem-se por mais um trocado
Aquelas eternas meninas
Brincam, suplicam, dedicam
Anseiam por vidas mais ternas
Lhanas, profanas, ciganas
Fulanas alegres sem dono
Andam, cirandam, se enganam
Se engraçam pra vida da noite
Tristes, silentes, doentes
Pedintes de todos os dias
Destroem-se, doem-se, correm
Corroem-se por mais um trocado
3.7.12
Janela Secreta
Pulou de dente em dente
Veio de fio em fio
Nadou contra a corrente
Do meu infinito rio
Cativo dos meus sorrisos
Saudoso dos meus cabelos
Chegou sem dizer aviso
A fim de findar-me o gelo
E foi por tanta insistência
Que por uma brecha de olhar
Por mais que gritasse ausência
Não fiz-me capaz de ocultar
Entendendo-me sem medo
Vasculhando sem alerta
Entrou por entre os remendos
Da minha janela secreta
Veio de fio em fio
Nadou contra a corrente
Do meu infinito rio
Cativo dos meus sorrisos
Saudoso dos meus cabelos
Chegou sem dizer aviso
A fim de findar-me o gelo
E foi por tanta insistência
Que por uma brecha de olhar
Por mais que gritasse ausência
Não fiz-me capaz de ocultar
Entendendo-me sem medo
Vasculhando sem alerta
Entrou por entre os remendos
Da minha janela secreta
30.6.12
Entreposto
Com Renan Furtado
Eu quebro os dias em horas fundas,
Fundo os dias em horas rasas
Crio em poucos momentos,
Grandes lástimas.
Conto a vida com pouca voz,
Em peito vago,
Digo a palavra em mão atroz
E coração estático.
O meu tempo arrasta-se lento
Condenado ao ócio,
Meus risos logram da antítese
Eterna com meu coração.
Sinto no mundo o frenesi,
As ideias, os caminhos,
A inanidade de ser eterno,
Entreposto.
23.6.12
A noite do gato
Um gato malhado,
Em cima do muro,
Pulando telhados,
Taciturno.
E o gato, silente,
Debaixo de chuva,
Miava na noite,
Viúva.
Noturno felino,
Pingando de praga,
Nem pensa em destino,
Naufraga.
Nas ruas maciças,
Gemia o gatinho,
Com fome e preguiça,
Sozinho.
Em cima do muro,
Pulando telhados,
Taciturno.
E o gato, silente,
Debaixo de chuva,
Miava na noite,
Viúva.
Noturno felino,
Pingando de praga,
Nem pensa em destino,
Naufraga.
Nas ruas maciças,
Gemia o gatinho,
Com fome e preguiça,
Sozinho.
15.6.12
Fundo
Eu vivo em eterno sufrágio
Por vício, virtude ou labor
Eu morro em gentil sacrilégio
E, morta, eu vivo de amor
Eu morro a cada suspiro
E a cada pergunta no ar
Mas quando anoitece, eu vivo
Mas vivo sem dó de matar
Sem morte, nem vida, nem riso
Sem queda, sem sono, sem ar
Eu morro-te, amo-te, vivo-te
E esqueço-te assim que calhar.
Por vício, virtude ou labor
Eu morro em gentil sacrilégio
E, morta, eu vivo de amor
Eu morro a cada suspiro
E a cada pergunta no ar
Mas quando anoitece, eu vivo
Mas vivo sem dó de matar
Sem morte, nem vida, nem riso
Sem queda, sem sono, sem ar
Eu morro-te, amo-te, vivo-te
E esqueço-te assim que calhar.
O que tem pra hoje?
Com Pedro Jardim
Pra hoje não tem poesiaNem tem quem queira cantar
Pra hoje, só um resto de vida
E um canto pra nela pensar
Pra hoje não há mais nem tempo
Pra hoje só tem solidão
Não há mais o frescor do vento
Nem há quem não sofra em vão
Hoje o sorriso foi substituído
E o sono foi logo roubado
Por um coração deprimido
Por um roto e murcho legado
Pra hoje não tem bebedeira
Pra hoje não tem sim nem não
Pra hoje não tem quem me queira
Pra hoje só resta a canção
Pra hoje, só a melancolia
Não há carinho ou abraço
Pra hoje só sobra agonia
E, junto, meu peito esmagado
Hoje, não sei pra onde vou
Tampouco sei de onde vim
Só sei que pro dia de hoje
O resto do resto é meu fim
14.6.12
Acomodada
Teus versos já senis
Teu riso já cansado
Teus olhos tão calados
Me embebem em frio e luz
Teus braços esfriados
Teus passos tão errados
Teus dedos agitados
Me abraçam em sofridão
Os teus eternos braços
Perpétuos olhos rotos
Enfim, sutil sorriso
Me abarcam os sentidos
Teus tenros sentimentos
Teus jovens pensamentos
Teus nítidos suspiros
Me aceitam como sou
Teu riso já cansado
Teus olhos tão calados
Me embebem em frio e luz
Teus braços esfriados
Teus passos tão errados
Teus dedos agitados
Me abraçam em sofridão
Os teus eternos braços
Perpétuos olhos rotos
Enfim, sutil sorriso
Me abarcam os sentidos
Teus tenros sentimentos
Teus jovens pensamentos
Teus nítidos suspiros
Me aceitam como sou
6.6.12
Contra Mão
Tu vinhas tão solto e silente
Que eu vinha, mesmo sem razão
E fostes, assim de repente,
Embora com o meu coração
Eu vinha tão certa e tão feita
Que nem cogitei te encontrar
E, sem levantar suspeita,
Tu vinhas tirar-me o lugar
Tu vinhas em forma de luz
Eu vinha como que sem ar
Enchia-te os olhos gentis
Tu vinhas, então, pra deixar
Eu fui como quem não quer nada
Tu fostes como quem nem nota
E, juntos, nós fomos calados
Como quem não sabe o que falta
Que eu vinha, mesmo sem razão
E fostes, assim de repente,
Embora com o meu coração
Eu vinha tão certa e tão feita
Que nem cogitei te encontrar
E, sem levantar suspeita,
Tu vinhas tirar-me o lugar
Tu vinhas em forma de luz
Eu vinha como que sem ar
Enchia-te os olhos gentis
Tu vinhas, então, pra deixar
Eu fui como quem não quer nada
Tu fostes como quem nem nota
E, juntos, nós fomos calados
Como quem não sabe o que falta
5.6.12
Toque
"Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não."
- Manuel Bandeira
Espero-te como o tempo espera a ação
Inócuo e intrépido o tempo espera, assim
Espero-te como o dia espera a noite
E, sem esperança, o dia espera por mim
Eu ardo em chamas como arde uma fogueira
Que, de manhã, só sabe à brasas e fumaça
Eu ando só e ando sempre derradeira
Eu ando triste porque sei que a vida é rasa
A vida, inerte, cabe em si, mas não no mundo
A minha, ao menos, cabe em versos e palavras
Eu deito, enfim, no escasso fim de um mar profundo
Eu choro mar, respiro céu, não digo nada
Tu vens, enfim, tirar de mim algum sorriso
Sorrio então, como que em abreviação
Esqueces tudo e sabes lá o que de mim
Mas vais lembrar e eu, enfim, vou dizer não.
Olhos de Luar
Com Pedro Jardim
Nas tramas da noite a gente padece
Do tempo que une meus olhos aos teus
Entre um chopp e outro a gente se esquece
E se afoga nos versos que a vida nos deu
A lua nos mostra quem somos de fato
E abraça nós dois como quem sente falta
A gente se embola nos passos trocados
E volta pra casa com a noite já salva
Em casa é tudo de novo, eu penso quase sem dor
Em tudo que a gente disse e tudo que a gente pensou
Chega a noite, o dia acaba, e resta-nos só o ardor
De tudo o que a gente leva pro dia que, enfim, raiou
Convite
Com Pedro Jardim
Cada caso, um acaso
Se não hoje, depois
Um novo dia, um novo passo
Uma nova história a dois
De manhã, sem vontade
Já na tarde, avidez
Pela noite, a saudade
Do que o dia não fez
Entre um olhar e outro
Entre um riso e um mês
Um manso verso disposto
Nos arranca a mudez
18.5.12
Permutação
Já não falo de amor a esta hora
Já não quero brincar com você
Meu amor já não brinca há muito
E você já não fala em querer
Já não espero que o tempo entenda
Que a noite é uma criança chorona
Pois, chorona, eu espero a noite
E entendo que o tempo é criança
A música de sempre não toca
E os olhos abertos não vêem
Mas eu toco os olhos em sempre
E a música se abre pra mim
Num compasso sem passo e sem fim
Eu me embalo, talvez meio errada
E errados, os passos me embalam
Para o fim, talvez no compasso
Tu abres o peito e me abraças
Eu sufoco calada e choro
No sufoco do teu sempre abraço
Eu choro em teu peito calado
Já não quero brincar com você
Meu amor já não brinca há muito
E você já não fala em querer
Já não espero que o tempo entenda
Que a noite é uma criança chorona
Pois, chorona, eu espero a noite
E entendo que o tempo é criança
A música de sempre não toca
E os olhos abertos não vêem
Mas eu toco os olhos em sempre
E a música se abre pra mim
Num compasso sem passo e sem fim
Eu me embalo, talvez meio errada
E errados, os passos me embalam
Para o fim, talvez no compasso
Tu abres o peito e me abraças
Eu sufoco calada e choro
No sufoco do teu sempre abraço
Eu choro em teu peito calado
13.5.12
Soneto de um dia de chuva
O tempo floresce, já todo calado
Cansado de sol, exausto de prece
Nublados do céu que o tempo enaltece
A chuva colore a dor e o asfalto
As gotas se embalam, lavando o pecado
Dançando no céu que a água embranquece
A chuva só traz do que a noite padece
Em branco leitoso do céu, já molhado
Envoltos em sol e cheios de céu
Os pingos se embolam e trazem, inertes
Um pouco de luz e um mundo de fel.
Em uni-oração, no tescer do véu
A chuva só quer que o tempo desperte
Um pouco de tudo, como um carrossel
Cansado de sol, exausto de prece
Nublados do céu que o tempo enaltece
A chuva colore a dor e o asfalto
As gotas se embalam, lavando o pecado
Dançando no céu que a água embranquece
A chuva só traz do que a noite padece
Em branco leitoso do céu, já molhado
Envoltos em sol e cheios de céu
Os pingos se embolam e trazem, inertes
Um pouco de luz e um mundo de fel.
Em uni-oração, no tescer do véu
A chuva só quer que o tempo desperte
Um pouco de tudo, como um carrossel
12.5.12
Resto de Bar
Só mais umas mesas;
Mais uma rodada;
As cadeiras viradas;
É hora de ir.
Converso animada,
o tempo inexiste.
Descanso calada,
nem chata, nem triste.
Eu sento de lado,
Os olhos aguados,
Sorrindo pro nada,
Mais sim do que não.
Eu falo bem alto,
nem ligo, nem noto.
Aqui, tudo bem;
Não tem solidão.
A gente só fala,
E ri, na calada.
E a gente se cansa
da imensidão.
Só mais uma mesa;
Mais umas rodadas;
A gente se abraça,
E chama o garçom.
Mais uma rodada;
As cadeiras viradas;
É hora de ir.
Converso animada,
o tempo inexiste.
Descanso calada,
nem chata, nem triste.
Eu sento de lado,
Os olhos aguados,
Sorrindo pro nada,
Mais sim do que não.
Eu falo bem alto,
nem ligo, nem noto.
Aqui, tudo bem;
Não tem solidão.
A gente só fala,
E ri, na calada.
E a gente se cansa
da imensidão.
Só mais uma mesa;
Mais umas rodadas;
A gente se abraça,
E chama o garçom.
7.5.12
Romance ideal
A valsa suave dos teus dedos
Me percorre até o fim da memória
Nós sorrimos, encarcerados em nós
E saudamos o escasso mundo
Nossos olhos entrelaçam-se
Nossas bocas imploram mais
Enquanto nos separamos a ermo
Na eternidade do resto do dia
Eu chego já tarde e já triste
Tu chegas dançando sem par
Me chega ao teu peito, e gritas
Escarnecendo a minha ausência
Nós gritamos de tanto saber
De ciúme, de raiva, de dor
E, ternos, nós vamos dormir
Eternos em sonho dolente
Presos em sonho e em um
Nós vamos enfim nos deixar
Tu vais, de volta ao nunca
E eu vou, pra nunca voltar
Me percorre até o fim da memória
Nós sorrimos, encarcerados em nós
E saudamos o escasso mundo
Nossos olhos entrelaçam-se
Nossas bocas imploram mais
Enquanto nos separamos a ermo
Na eternidade do resto do dia
Eu chego já tarde e já triste
Tu chegas dançando sem par
Me chega ao teu peito, e gritas
Escarnecendo a minha ausência
Nós gritamos de tanto saber
De ciúme, de raiva, de dor
E, ternos, nós vamos dormir
Eternos em sonho dolente
Presos em sonho e em um
Nós vamos enfim nos deixar
Tu vais, de volta ao nunca
E eu vou, pra nunca voltar
Canção de Ser
Eu nunca pedi pra dormir
Nem pedi pra sorrir
Nem pedi pra viver
Eu nunca quis tê-lo pra mim
Ou neguei sonhos pra mim
Nunca fui um só ser
Não maldisse a noite lenta
Nem maldisse os teus enganos
Nunca expus minha alma isenta
Nem neguei calor humano
Ao meu corpo eu já neguei
Por mil vezes a saudade
Escondi no meu sorrir
Toda a paz da eternidade
Toda clara e turbulenta,
Minha juventude em flor
Se trancou nas horas lentas
De mil noites sem sabor
Não sou triste nem feliz
Não espero compaixão
Eu não agonizo a vida
Nem a vivo como em vão
Eu gosto de estar aqui
Mesmo se digo que não
Aqui eu não custo a sorrir
E trago a minha canção
Em ser triste e ser alegre
Ou ser feliz e não ser nada
Eu quero mais é ser triste
Na alegria da alvorada
E é por isso que canto
Em versos pobres e loucos
Ritmados em meu peito
Pelo meu coração rouco.
Nem pedi pra sorrir
Nem pedi pra viver
Eu nunca quis tê-lo pra mim
Ou neguei sonhos pra mim
Nunca fui um só ser
Não maldisse a noite lenta
Nem maldisse os teus enganos
Nunca expus minha alma isenta
Nem neguei calor humano
Ao meu corpo eu já neguei
Por mil vezes a saudade
Escondi no meu sorrir
Toda a paz da eternidade
Toda clara e turbulenta,
Minha juventude em flor
Se trancou nas horas lentas
De mil noites sem sabor
Não sou triste nem feliz
Não espero compaixão
Eu não agonizo a vida
Nem a vivo como em vão
Eu gosto de estar aqui
Mesmo se digo que não
Aqui eu não custo a sorrir
E trago a minha canção
Em ser triste e ser alegre
Ou ser feliz e não ser nada
Eu quero mais é ser triste
Na alegria da alvorada
E é por isso que canto
Em versos pobres e loucos
Ritmados em meu peito
Pelo meu coração rouco.
Submersa
I.
Eu afundo perpétua
As roupas molhadas
As faces lavadas,
O ar que respiro
É uma piada sem graça,
Suspensa no enleio.
Bebo mais um gole
Que me force um sorriso
Sorrio inócua e bebo mais um;
Como se entendessem tudo
Meus cabelos se enroscam,
E minhas faces coram.
Meus lábios maldizem,
Meus passos se cruzam,
E eu estou bem.
II.
Meus olhos pesados,
Já bem mareados,
Precedem o fracasso;
Fatais e inocentes
Não merecem, de fato
O regalo que trago
De um pouco de tudo.
Inertes, os olhos
As mãos agitadas
Velados, os sonhos
Destinam-se ao fim
O início de tudo
Perpétuo, do mundo
Pesado, de mim
Meu corpo reage
E tenta fugir
Do baque da queda
Estou presa em mim
Um poço sem fundo,
Pesado do mundo
E perpétuo de fim.
Eu afundo perpétua
As roupas molhadas
As faces lavadas,
O ar que respiro
É uma piada sem graça,
Suspensa no enleio.
Bebo mais um gole
Que me force um sorriso
Sorrio inócua e bebo mais um;
Como se entendessem tudo
Meus cabelos se enroscam,
E minhas faces coram.
Meus lábios maldizem,
Meus passos se cruzam,
E eu estou bem.
II.
Meus olhos pesados,
Já bem mareados,
Precedem o fracasso;
Fatais e inocentes
Não merecem, de fato
O regalo que trago
De um pouco de tudo.
Inertes, os olhos
As mãos agitadas
Velados, os sonhos
Destinam-se ao fim
O início de tudo
Perpétuo, do mundo
Pesado, de mim
Meu corpo reage
E tenta fugir
Do baque da queda
Estou presa em mim
Um poço sem fundo,
Pesado do mundo
E perpétuo de fim.
2.5.12
Radar II
E até as sereias calaram seus cantos
Frente ao sepulcro do insípido amar
Secaram-se os sete mares de pranto
Findou-se a onda a rachar no sonar
Em meio aos ventos e aos desencantos
A noite deitava-se em golpes de olhar
Choravam estrelas ao fim de seu leito
E o dia outorgava seu tempo de mar
Separam-se os corpos ainda queimando
Em lágrimas de sal e gotas de luar
Na praia termina-se o lívido conto
E, lívidamente, deleita-se o mar.
27.4.12
Dá-se
Dá-se a falta de sono;
Dá-se o choro sem dono;
Dá-se o suspiro incólume;
Dá-se a intermitente fome;
Dá-se o pensamento malvado;
Dá-se a chuva sem fim;
Dá-se o vento gelado;
Dá-se a solidão em mim;
Dá-se a sua pirraça;
Dá-se a senil dialética;
Dá-se a chave de casa;
Dá-se a licença poética;
Foda-se.
25.4.12
Gosto de Resto
A fuligem esparsa escapa entre os dedos
E o dia ainda dorme cantando sem som
Procuro no mar, na soleira e no vento
As cinzas que ainda se deitam no chão
Esboço um sorriso e viro silêncio
Com a calma inexata da exatidão
A noite me embala em balada de anseio
E nina a insônia com triste canção
Perscruta-me a fala e a falta de apreço
E se endorme nos braços dos sonhos sem luz
Não esquece, não dói e não faz-se segredo
O réu que em mim já não acha juiz
Do encontro funesto entre verbo e sujeito
Derradeira e travessa se faz a acção
Sem fala, sem rima e sem aproveito
Se espalha tal qual as cinzas pelo chão
16.4.12
Agora
Infindável agora
Onde está o dia
Que nunca raiou
na minha agonia
Onde está o pasto
Onde está o cerco
Do que resta ao rastro
do teu aconchego
Onde está a chance
Onde está o ar
Que me cabe ao antes
e depois de amar
Sendo eu sem rumo
e você sem par
Sendo o patio escuro
um secreto altar
Sem sabor nem cheiro
e sem hesitar
o meu peito cheio
se esvazia em mar
Sem mentira e gosto
Sem chorar ou rir
Sem mostrar no rosto
O que não dormi
Isenta de nada
Pesada de pena
Sou então pequena
Sou então alada,
Agora.
Onde está o dia
Que nunca raiou
na minha agonia
Onde está o pasto
Onde está o cerco
Do que resta ao rastro
do teu aconchego
Onde está a chance
Onde está o ar
Que me cabe ao antes
e depois de amar
Sendo eu sem rumo
e você sem par
Sendo o patio escuro
um secreto altar
Sem sabor nem cheiro
e sem hesitar
o meu peito cheio
se esvazia em mar
Sem mentira e gosto
Sem chorar ou rir
Sem mostrar no rosto
O que não dormi
Isenta de nada
Pesada de pena
Sou então pequena
Sou então alada,
Agora.
10.4.12
Insomnia II
O silêncio pro medo
Pro silêncio, a resposta
Pra resposta, o enredo
Pra viver, aposta
O saber e o segredo
Sem saber, sem perdão
A falta que faz o alento
Pelo sim e pelo não
Pelo dito e pelo feito
e pela abreviação
Sem um Verbo e um sujeito
para a nossa Criação
Sem afago e sem sossego
Sem largada e sem corrida
Sem legado e sem apego
Durmo fundo minha vida.
Pro silêncio, a resposta
Pra resposta, o enredo
Pra viver, aposta
O saber e o segredo
Sem saber, sem perdão
A falta que faz o alento
Pelo sim e pelo não
Pelo dito e pelo feito
e pela abreviação
Sem um Verbo e um sujeito
para a nossa Criação
Sem afago e sem sossego
Sem largada e sem corrida
Sem legado e sem apego
Durmo fundo minha vida.
26.3.12
Não Ser
Os olhos fecham-se.
Do jeito com que se fecha uma janela enferrujada
Como se estivessem enferrurajados, gemem,
pois pro cansaço não há paz que satifaça.
Não há tormenta que não durma,
ou demônio que não acorde
Dormindo ao sabor do barulho da rua
ou de qualquer outro sabor de noite
Nós balbuciamos qualquer coisa tola
e dormimos pra tentar sonhar
Nós nos ninamos sem dizer palavra
e nos amamos antes de acordar
Nós dormimos com o vazio
E o vazio dorme conosco.
Do jeito com que se fecha uma janela enferrujada
Como se estivessem enferrurajados, gemem,
pois pro cansaço não há paz que satifaça.
Não há tormenta que não durma,
ou demônio que não acorde
Dormindo ao sabor do barulho da rua
ou de qualquer outro sabor de noite
Nós balbuciamos qualquer coisa tola
e dormimos pra tentar sonhar
Nós nos ninamos sem dizer palavra
e nos amamos antes de acordar
Nós dormimos com o vazio
E o vazio dorme conosco.
8.3.12
Despretensioso, finalmente
Um grilo enche o saco na janela
E algum cachorro late por aí
O relógio diz duas, mas são três
Eu vou na varanda, de quando em vez
Eu leio o meu livro e abano a fumaça
E sento no chão, sujo como sempre
tentando entender o tempo que passa
tentando esquecer o tempo da gente.
O vento só bate essa hora do dia
Porque quando é dia o sol queima brabo
Eu penso demais e pensar me entedia
Eu fico sozinha esperando o cansaço
Às vezes me canso e vou me deitar
Daí eu me deito e não posso dormir
Me lembro de tudo que tem pra lembrar
e esqueço de tudo que tem pra sorrir
Escrevo um textinho sem pompa e sem sal
e falo da vida só pra distrair
queria levar até o final,
mas eu finalmente preciso dormir.
E algum cachorro late por aí
O relógio diz duas, mas são três
Eu vou na varanda, de quando em vez
Eu leio o meu livro e abano a fumaça
E sento no chão, sujo como sempre
tentando entender o tempo que passa
tentando esquecer o tempo da gente.
O vento só bate essa hora do dia
Porque quando é dia o sol queima brabo
Eu penso demais e pensar me entedia
Eu fico sozinha esperando o cansaço
Às vezes me canso e vou me deitar
Daí eu me deito e não posso dormir
Me lembro de tudo que tem pra lembrar
e esqueço de tudo que tem pra sorrir
Escrevo um textinho sem pompa e sem sal
e falo da vida só pra distrair
queria levar até o final,
mas eu finalmente preciso dormir.
5.3.12
Esperar
Eu olho pro teto, eu espero
Escrevo, leio, esqueço,
Espero.
Eu não sei pelo quê espero
Me descabelo, me condeno
Espero.
Impaciente, desesperada
Pela rejeição pressuposta,
Pelo meu próximo erro imperdoável,
Pelo pico de alegria,
Pelo lapso de tristeza,
Inexoravelmente espero.
Não entendo e não me iludo,
não me calo e não me acudo,
não me perco e não me acho,
Espero.
Na esperança de não esperar mais.
Não é tristeza, é só espera,
por algum evento que justifique a ânsia.
Não é nenhum vazio melancólico,
só é um vazio verdadeiramente vazio.
Eu não quero e não pondero,
Eu não falo e não reclamo,
Eu não sei e não me julgo,
Eu não odeio e não amo.
E enquanto isso eu espero
Por qualquer coisa de humano,
por um motivo pra entender.
Eu sorrio
e espero.
Escrevo, leio, esqueço,
Espero.
Eu não sei pelo quê espero
Me descabelo, me condeno
Espero.
Impaciente, desesperada
Pela rejeição pressuposta,
Pelo meu próximo erro imperdoável,
Pelo pico de alegria,
Pelo lapso de tristeza,
Inexoravelmente espero.
Não entendo e não me iludo,
não me calo e não me acudo,
não me perco e não me acho,
Espero.
Na esperança de não esperar mais.
Não é tristeza, é só espera,
por algum evento que justifique a ânsia.
Não é nenhum vazio melancólico,
só é um vazio verdadeiramente vazio.
Eu não quero e não pondero,
Eu não falo e não reclamo,
Eu não sei e não me julgo,
Eu não odeio e não amo.
E enquanto isso eu espero
Por qualquer coisa de humano,
por um motivo pra entender.
Eu sorrio
e espero.
4.3.12
Catarse
O dia de chuva,
As costas na cama,
Os pés nus na areia,
As mãos de quem ama.
O encontrar dos lábios,
A beira do abismo,
O vento no rosto,
Aquele sorriso.
O mergulho no mar,
A noite estrelada,
O auge da festa,
O delito velado.
O fôlego tardio,
A tangente do mundo,
O doce da lingua,
O raso do fundo.
A epifania secreta,
A catarse da entrada,
O empirismo do ser,
O ser e o nada.
O anseio do mundo
Por nada e por tudo
tal qual o claro
anseia o escuro
Assim como o toque implica no beijo
E a cumplicidade espera o olhar
Assim como o quase pretende o zero
e assim como o céu almeja o mar.
As costas na cama,
Os pés nus na areia,
As mãos de quem ama.
O encontrar dos lábios,
A beira do abismo,
O vento no rosto,
Aquele sorriso.
O mergulho no mar,
A noite estrelada,
O auge da festa,
O delito velado.
O fôlego tardio,
A tangente do mundo,
O doce da lingua,
O raso do fundo.
A epifania secreta,
A catarse da entrada,
O empirismo do ser,
O ser e o nada.
O anseio do mundo
Por nada e por tudo
tal qual o claro
anseia o escuro
Assim como o toque implica no beijo
E a cumplicidade espera o olhar
Assim como o quase pretende o zero
e assim como o céu almeja o mar.
28.2.12
Ser são
São mãos, são braços, são pernas
são aneis, correntes, sapatos
São os outros disfarçados de um só
sou só eu me escondendo do cansaço
Só vivo, pois morrer eu já não sei
só corro, pois parar já não me resta
só calo porque o dia já acabou
e não aprendi a ficar só sem delirar
Eu não penso linear, nem ando linear
nunca falo o que eu quero, e nunca quero falar
não me vejo no espelho, vejo o que voce vê
Quero existir, mas sem saber ao que restar
Quero o sabor de me encontrar longe de mim
eu quero ser tudo o que vem depois do fim
Porque é fácil esquecer de me lembrar.
são aneis, correntes, sapatos
São os outros disfarçados de um só
sou só eu me escondendo do cansaço
Só vivo, pois morrer eu já não sei
só corro, pois parar já não me resta
só calo porque o dia já acabou
e não aprendi a ficar só sem delirar
Eu não penso linear, nem ando linear
nunca falo o que eu quero, e nunca quero falar
não me vejo no espelho, vejo o que voce vê
Quero existir, mas sem saber ao que restar
Quero o sabor de me encontrar longe de mim
eu quero ser tudo o que vem depois do fim
Porque é fácil esquecer de me lembrar.
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