9.4.14

faz muito tempo
que o teu tempo
já não é meu

me lembra a praia
o mar cinzento
me lembra o céu

que nos pingava
e olha agora
só pingo eu

e olha agora
que lá no canto
não tem mais céu

e das estrelas
daquela noite
não lembro mais

pois não se vive
daquela noite
sem outras mais

10.9.13

sorte não te ver
ter-te sem te ter
me canso a procurar
nos lugares que estiver

e tenho-te ao meu lado
e não sou tua mulher
não sou nem teus fantasmas
não sou mais que dever
sou só tua lembrança
de ter-me só por ter

e eu danço nos teus passos
e erro sem saber
e tenho-te nos braços
tanto quanto puder

e eu sou tudo o que queres
mas queres por querer
e eu sou o aqui e agora
mas não sou pra você

existem outras formas
e delas você quer
e existem outros braços
cansados de te ter
e existem outras bocas
a quando convier

eu sou o aqui e agora
e não tua mulher.

17.8.13

goteira

o céu quase chove
sem fingir de doce
sem brincar de sol
venta um pouco
e pia,



e pinga,


e passa.

volta manso
sem rumo e sem pressa
sem dança
sem nada
fica,


foge,

fala.

nem pra chover,
nem pra ventar,
eu chovo sozinha
e o céu d e v a g a r.

22.5.13

Maré cheia

Se o mar te levou
Quem sou eu pra buscar
Vai lá, vai lá
Pra junto de iemanjá
Vê a lua no mar
Lá na espuma do mar
Vai lá, vai lá
Vai brincar de cantar
Com as sereias do mar
E as doçuras do mar
Vai lá, vai lá
Que as torturas de amar
Deixa às ondas do mar
Que elas vem me contar
Vai lá, vai lá
Que com as conchas do mar
E as lamúrias do mar
Eu tratei de ficar
Vai lá, vai lá
Que não podes voltar.

Fantasmas

Eu quero assombrar teus ouvidos
Amarrar teus braços
Roubar tuas palavras

Eu quero arruinar suas festas
Puxar teus cabelos
Matar teus fantasmas

Lhe devolver minhas doenças
Tossir meu veneno
Me trazer de volta

Ressucitar meu sorriso
Te furar a pele
Cessar tua escolta

Eu quero assombrar teus braços
Roubar teu ouvidos
Amarrar palavras

Eu quero querer-te terno
Mas já que não quero
Quero-te, calada

29.4.13

Pequena

(ler devagar)

Deixa pra lá
Não precisa entender
(não vou explicar)
Seja o que for, sem sentido
Só vou ouvir teus gemidos
impacientes.
E vou esperar paciente
Pelos teus dedos
inconscientes.
E te levar devagar
Não vou chorar
Não vou chamar
Você vai vir devagar
Arrepiar,
você vai rir
Me deixa louca,
me deixa;
e volta aqui,
pra mim.
Sê assim, cê vai ver
Quanto de mim dá você
Quantos encontros, no entanto
manchados de preto,
brincando de branco.
Passado, presente,
pedaços,
Nas dobradiças dos teus abraços.
Nos fios do teu travesseiro.
Na minha pele,
teu cheiro.
Tua hora:
Teu tempo demora.
Me adora,
devora, flutua.
Sou sua,
Sua,
Apenas.
Até dizer chega,
Sou sua
pequena.