22.8.12

Conto de Dois

Nos teus olhos macios celebraria
A insondável arte de serdes eterno.
Ainda que a vida nos privasse do sempre,
E que o nosso tempo se reduzisse a zero.
Os nossos dias seriam de sol,
Mesmo se a chuva caísse lá fora.
E as coisas do jornal e do futebol,
Não chegariam nas nossas cobertas.
As horas seriam um regalo do mundo,
E o mundo seria um pedaço de Nós,
Os nossos suspiros seriam tão fundos
Que o ar cansaria dos nossos pulmões.
Os auto falantes das nossas janelas
Tocariam a melodia do mar em Lá
Pra ninar-nos independente das horas,
Que o relógio do canto insiste em marcar.
Acariciarias as minhas cicatrizes,
e explicá-las-ia como memórias
- Impessoais e quase insignificantes -
de um passado que já não nos importa.
Saudaríamos o tempo em que fazemos história
E a cama em que fazemos leito, enquanto
Riríamos frente à estúpida pequenez do universo.
Dividir-nos-íamos percalço a percalço,
E algumas noites seriam só silêncio.
Os nossos armários encheriam-se de poeira
E lágrimas, e músicas, e memórias, e sonhos.
Mas voltarias. Crisparias os teus eternos braços ao meu redor,
Como que em desculpa pelo tempo em que estivemos separados.

Um comentário:

é.