30.11.12

A história de como eu perdi meu sono

Um dia eu acordei cansada
De tanto dormir sem sono
De tanto pensar na vida
De só sonhar por engano
E era tanta coisa triste
Que só me cansava mais
Pensando em tudo o que existe
Tanto quanto era capaz
E o lamento ia aumentando
Até que virou preguiça
E o meu sono profanado
Virou mais uma premissa
Pra perder o sono sempre
E acabar só vadiando
Nas horas sem som da noite
Que viraram horas de pranto
E que me abraçaram sempre
Quando eu não podia mais
E essa lamúria crescente
Foi-se embora e trouxe paz
Agora eu sonho acordada
E não quero mais dormir
E é na noite sempre calada
Que eu acordo pra sorrir

28.11.12

Quando for

Pois se for pra ser, que seja
Que as nossas feridas jamais se curem
Que seja no chão, que seja na mesa
Que seja sofrível enquanto dure

Que eu chore de noite e ame de todo
E os pratos espatifem-se na parede
Que sejas só um entre inúmeros outros
Que nós só sejamos o tempo presente

Que o fim seja só um regalo do tempo
Mas que nós gritemos até nos cansar
Que o tempo resseque nossos sentimentos
Mas que nunca cure o nosso penar

E que se eternizem os toques e beijos
Que eu seja uma dor pra nunca passar
Que a falta que fazes me lembre por dentro
De sempre sofrer, pra sempre te amar

25.11.12

Convite II

Cada frase, uma fase
Um final pra nós dois
Mais um verso que faz-se
Entre agora e depois

Entre um adeus e outro
Nesse tempo que fez
Que um romance chuvoso
Encontrasse sua vez

22.11.12

Sem Engano

Das tuas dores só lhe tomo uma
Nenhuma que um dia curarei
Nem sei até quando posso ser
Beber de você o que vier

Se for, só me chame se lembrar
De falar dessas coisas que não sei
Sou rei nesse teu castelo bambo
De escambo, de amor e de prazer

Já soube, mas agora nem me lembro
Do escombro que já foi meu coração
Mas não, não me canso de tentar
Penar nessa tua imensidão

Chorei, chorarei, mas sem engano
Nos planos que eu fiz, a gente chora
E agora, que sou feito cão sem dono
Sem sono, no pesar da tua demora

Me chama, pra ser teu amor eterno
Quão terno pode ser o nosso amor
Que dor, de ser teu e não ser nada
Na calada de mil noites de torpor

21.11.12

Espera

Ele trazia consigo mazelas
Ele vinha senil de viver
Só queria chegar na janela
E assistir seu amor renascer
Mas a janela não era aquela
E o amor já cansou de morrer

Ou quiçá seu amor fora embora
Como outrora ele teve de ir
E o que pode ser feito agora
Se a janela continua ali
Se no claustro da sua demora
Seu amor fez-se desiludir

Por que sim, por que não, sem porquê
Sem remédio pro seu coração
Porque sabe quem deve saber
Que quem vai nunca volta pro então
Que se ir for o amanhecer
Há de ser a volta escuridão

Foi-se embora na aurora sem rumo
Sem janela pra lembrar no mar
Foi-se velho, sujo, moribundo
Foi-se, sem ter pra onde voltar
E nem todo o amor desse mundo
Vai voltar pra janela e esperar


Eu te odeio, abelhinha

Por que voas no meu quarto, abelha
Se tens asas para o mundo inteiro
Por que o bege do meu quarto, abelha
E não as flores do canteiro
Despertaste-me do sono, à toa
Com o teu bater de asas
Não lhe quero fazer mal, abelha
Mas não quero que me faças
Deixa-me dormir, inseto
Não ligo pro seu ferrão
Só ligo pro teu barulho, abelha
Que roubou-me um sonho bom

:)

18.11.12

Corda Bamba

Veja bem, meu bom amigo
Que eu sei bem o que eu lhe digo
Finja mais que eu não sou nada
Que eu te finjo que não ligo

Se ao me ver assim cansada
Tão certa pra ser errada
Teus errantes sentimentos
Se alojaram em minha estada

Veja bem, nesse momento
O que você sente dentro
Não é nada, se poesia
Não se faz com pensamento

Se a labuta da alegria
A mornice da agonia
Não lhe deixam me deixar
Deixe em paz a calmaria

E é assim que eu vou levar
Nem pra lá e nem pra cá
Te mandando ir embora
Só pra ver você ficar

6.11.12

Giramundo

De cores, sabores, segredos
De espaços vazios, sagrados
O mundo gira de bom grado
Gira intermitente,
não para.

Fumaça que sobe indecente
Nas vias aéreas da gente
No peito morto incandescente
Doente canção,
que não para.

Se faz de amplidão, solidão
De vácuo, de inexatidão
Que corre pela multidão
E as minhas lamúrias,
não param.

E viver não é pois tortura
Distorção total da figura
De ser e viver com ternura
De anseio a saber,
que não para.

2.11.12

Doce Prece

Se ao acaso puderes lembrar
De tentares não me machucar
E ao tentares, melhor não tardares
A querer-me de um jeito só meu

Pois o quero do jeito que és
Impreciso da cabeça aos pés
E marcado de outras mulheres
De tudo do mundo, do jeito que deu

Não crie em mim muitos percalços
Não me faça de boba, eu lhe peço
Não me deixe à mercê, se puderes
Das tuas lamúrias, me faça museu

Eu só quero deitar-me em teu peito
E dizer-lhe o que quer que me venha
Eu só quero querê-lo mal feito
Querer tua lenha prum fogo só meu